quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Como não pensava

Em 2012
trabalhei como não pensava ser possível, fiz horas seguidas sem intervalos, escrevi relatórios que pareciam não ter fim, palmilhei muitos quilómetros de estrada, assisti a professores desorientados, dei a mão a pais e meninos que queriam até mais do que a mão, o colo.
comecei a levar vacinas e acabei a fazer análises, não foi nem de perto nem de longe um ano em que me sentisse no meu melhor
esperei, tive muita muita esperança, como eu não pensava vir a ter nem sequer vir a precisar,
chorei como não pensava ser possível chorar, do choro com som, com soluços e com gritos. Porque há coisas que deixam de caber em nós e corremos o risco de sufocar se insistimos em abafá-las
sofri uma dor que para muitos, quase todos, é incompreendida, descabida, despropositada e demasiada. Mas a medida da minha dor foi a medida da minha esperança e esse ciclo tão fatídico veio em dose dupla.
Dei a mão e abraços apertados, permiti que o D. me visse tremer como nunca tremi numa noite em que fui ao hospital. Tremer de frio, de medo, de desilusão, de desmoronanço.

2012 foi o ano que eu não pensava que ia ser, tive o trabalho que pensava que não ia ter e não tive a alegria maior que pedi de olhos bem apertados na meia noite do seu primeiro dia.

2012 deu-me a volta e tatuou bem fundo e a quente e a ferros a certeza absoluta de que estamos completamente à mercê do que está planeado para nós por alguém que não somos nós mesmos.

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